segunda-feira, 26 de maio de 2008

Eric Clapton confesso


A exemplo de meu amigo e confrade Fábio Davidson do DoxaBrasil, tive um grande prazer em ler a autobiografia de Eric Clapton (Ed. Planeta, 2007, 400 págs.). Minha admiração pessoal por Clapton, em parte talvez pelo amor que tenho à guitarra, só aumentou. Conhecer e reconhecer suas histórias, da forma com que ele as relatou no livro, fez-me provar muitas de minhas próprias questões sobre meu envolvimento com a música, ou a falta dele, assim como as ambigüidades e contradições do prazer em criar música aliado a um sentimento de aprisionamento com relação às necessidades e demandas que determinados projetos ou grupos de pessoas apresentavam, além das minhas próprias exigências.
O tom confessional e honesto da autobiografia é inspirador. Claro que não contou tudo, ninguém o faria, mas contou muito e de uma maneira desglamourizada, dentro das possibilidades de um dos maiores astros mundiais da música há 40 anos.
Difícil imaginar que um astro da grandeza de Clapton pôde sentir-se musicalmente inseguro tantas e repetidas vezes durante sua longa carreira (sem trocadilho quase que inevitável com o pó que ele cheirava).
Durante toda vida amargou uma luta desgastante: de um lado seu ego, constantemente inflado pela maioria dos que o rodeava nos longos tempos de loucura, e de outro aquele perfil tímido e até depressivo, próprio do garoto que viveu as histórias que viveu.
Clapton permitiu-se viver e assistir as variadas formas que sua busca pôde assumir: rebeldia, paixões arrebatadoras, vícios profundos em álcool e drogas, paranóias, corporativismo do meio musical, filantropia, etc..., tudo potencializado pela grandeza do dinheiro e talento que possui. Mas uma coisa que permeia o relato do início ao fim é que tudo isso se relacionava à sua necessidade de aceitação e aprovação, também da parte de outros, mas principalmente de si próprio, e as experiências e o tempo lhe mostraram que isso estava travestindo algo bem maior: o desejo e a necessidade de amar e ser amado.
Na densa nuvem de álcool e drogas em que esteve metido durante 2/3 de sua vida ele deixou de identificar, dentre tantas experiências, aquelas que eram positivas e reais daquelas que eram mesmo apenas fumaça. Isto me fez pensar também em quanto podemos estar entorpecidos com tantos outros tipos de fumaça, que nos impede de ver e viver o possível, e que nos faz andar numa velocidade abaixo do necessário para manter o equilíbrio, como numa bicicleta. Será que este equilíbrio existe mesmo durante nossa estada na Terra?
Não estou, nem poderia estar, sendo um prosélito do ativismo - fujo dele – mas quero continuar aprendendo com as possibilidades e impossibilidades que a vida nos entrega e, nesta jornada, encontrar o amor, se possível, todos os dias.

2 comentários:

Anônimo disse...

bom, agora só me resta ler o livro.
não sou muito afeito a biografias, mas gosto do clapton. sabendo q ele é um adictivo consciente da presença de seus demônios, me faz pensar - como vc falou - de como nos relacionamos com os nossos próprios.

joão ali

Fábio disse...

Foi uma leitura fantástica, mesmo. Linguagem comum, aparente honestidade, desglamourização quase total. Ele se coloca quase como um reles mortal...
Escrevi um artigo que saiu no Portal do Cristianismo Criativo. Quem puder, confira!
Abraço!